domingo, 22 de agosto de 2010

O Tempo



Um ano é definido por 365 dias, 8760 horas, 525600 segundos, intervalo de tempo que a terra demora a dar uma volta completa ao redor do sol. Renuncio a contagem do tempo, dias, meses anos e começo a contabilizar momentos.


Já rasguei calendários, joguei fora as baterias dos relógios e quebrei as ampulhetas...zerei todos os cronômetros e desafio aos seres que inventem algo que ajude a contar os momentos.


O tempo é democrático, imparcial, igualitário para negros, brancos, ricos, pobres, gordos , magros...mas os momentos são exclusivos.


Matar o tempo é facil, já os momentos são imortais.


O tempo desbota as fotos, enruga a pele, amarela as cartas, esnoba o moderno de outrora e o promove ao obsoletismo. Os momentos eternizam imagens, risos e cheiros.


Tenha tempo para se permitir ter momentos.



sábado, 22 de maio de 2010

Cara de um , focinho do outro....


Sempre tem aquelas pessoas que no meio de uma conversa casual solta a frase que você não queria ouvir:
" Nossa! Você parece com uma prima minha!" ( ou vizinha, colega de escola , o que for, alguém que nao temos a menor noção de quem seja). Piora quando viram pra outra pessoa e pedem confirmação " Fulano, ela não parece com a minha prima?" e o fulano encara você por alguns minutos (como se estivesse vendo um fantasma ou a besta do apocalipse) e depois exclama:" Nossa, parece mesmo!" E claro, os dois riem. Por que rir? Será que é por que a "prima" é horrenda e só os dois sabem disto?
Não gosto de ser parecida com desconhecidos... nem gosto de ser parecida. Principalmente porquê depois que os desconhecidos tornaram-se conhecidos fiquei muito decepcionada. Nunca encontrei ninguém (dos que foram comparados a mim)que fosse de longe parecido comigo. Algumas bem mais feias, o que ofende e me faz procurar algum tratamento cosmético imediato. Outras, muito mais lindas, o que também me ofende e me recorre a idéia " tá tirando onda com a minha cara?", essa mulher é muito mais lindo do que eu...
Esta semana numa quitanda aconteceu de novo. O senhorinho que estava no caixa vira pro carregador que embalava minhas frutas e diz: " Ela que eu digo que parece a Perla..." e ri. De imediato pensei na Perla do funk " selinho na boca , lalalalá...", boazuda demais , novinha demais, piriguete demais...tirando os cabelos pretos e lisos ( os meus estavam escovados) nada me comparava a ela.
- A do funk?
Ele nao conhecia a Perla do funk, era um senhor não chegado a batidões.
- Não.... A Perla do Paraguai.
Essa quem nao conhecia era eu. Esperando mais uma decepção, acionei o google ao chegar em casa. De novo os cabelos pretos e lisos. Nao tenho olhos parecidos com os dela, nem boca, nem nariz... nada. Mas quer saber, gostei de ser a Perla paraguaia!

domingo, 16 de maio de 2010

Dentes de Leite...


Ontem minha filha caçula foi ao dentista arrancar dois dentes de leite. Casanda de todas as idas e vindas do consultório dentário nos últimos dez anos, depois de ter presenciado muito choro, feitos muitas promessas de figurinhas e sorvetes, deixei essa incumbencia para meu marido.

Os dois seguiram apreensivos: Ela, por não saber como o pai iria reagiar aos seus protestos e choros na cadeira da dentista, ele, por saber exatamente como a filha reagiria.

Horas depois, eles chegam. Ela tomando sorvete, ele com cara de quem chegou de uma batalha.Ela sorri e percebo que os dois dentes se foram. Respiro aliviada.

- Mãe, aqui meus dois últimos dentes de leite.

Ela estende os dentinhos guardados numa caixinha. Senti um aperto no peito, só então percebi que eram os últimos dentes de leite. Eu não teria mais que enfrentar os choros e as birras no consultório dentário, me senti angustiada. Não fiquei angustiada por falta dos choros, mas senti saudade do tempo que está passando. A noite os pensamentos não permitiram meu sono. Levanto da cama e vou olhar minhas filhas dormindo. A mais velha quase uma moça. Choro e me recrimino por chorar, não posso chorar apenas por minhas filhas estarem crescendo lindas e saudáveis... me sinto egoísta.
Coloco duas notas debaixo do travesseiro da caçula. Foi a última vez que fui a fada do dente...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Não Gosto de Flores!

Não gosto de flores, mas não é de todo verdade. Gosto de jardim bem cuidado, flores de pracinhas, flores que nascem na beira do asfalto sem ninguém ter plantado, dos vasinhos de flores nas janelinhas coloniais expressando: " aqui mora uma senhorinha cuidadosa, tem retrato do marido falecido pintado e pendurado na sala, seus móveis sao de macanaíba encerados e quase nunca recebe visitas, porque filhos e netos não tem tempo para senhorinhas."
Nao gosto de ganhar flores. De ninguém. Nem de namorados, maridos e afins... Você pode estar pensando que sou uma mulher dura, ressentida e que provavelmente nunca ganhei flores. Errado, já ganhei muitas flores na vida, buquês das mais coloridas rosas, vasos sortidos e orquídeas solitárias. Pra mim bastavam os cartões que as acompanhavam.
Não sou ambientalista, nem de nenhum outro grupo radical que condena a venda de flores comerciais pelo mal causado pelo uso de agrotóxicos. Meu motivo é outro: são caras.
Quando vejo um cara com flores vindo na minha direção já começo a calcular quando custaram. Dependendo das flores, poderia ser aquela blusa que namoro na vitrine, uma carteira, um cinto, uma parcela daquela sandália maravilhosa...Vamos combinar? Flores murcham. E depois que murcham ? Fazer o quê? Escolher uma simbólica e guardar dentro de um livro grosso pra envelhecer junto com os sentimentos? Já fiz isso... Um dia abri um livro e deparei-me com a defunta, depedaçando, não havia mais pétala sobre pétala, apenas o cheiro fúnebreno ar e a incerteza na minha mente de quem havia me dado aquela rosa.
E tem mais... pra mim , homem quando dá flores de presente é que não quer se comprometer a comprar algo mas pessoal, flores genericamente agradam a todas ( exceto a mim, talvez aberração feminina). Quando ganho flores, não saio mostrando pras amigas ou colegas de trabalho ( por que eles tem essa mania de mandar entregarem em lugar mais público possível). Ponho na água por obrigação, e não troco. Até murcharem e irem pro lixo deixando um rastro de água fétida no vaso.
Acho a cena triste, deprimente talvez... um buquê na lata de lixo, sem glamour, sem surpresas, sem amor... Mas fazer o quê? Flores murcham e eu não gosto de ganhar flores.